sexta-feira, 28 de março de 2008

Parabéns ao grupo de leitura em espanhol!!

Oi galera!!!
Amanhã o pessoal do grupo de leitura em espanhol vai festejar um ano bem-sucedido de existência e atividade!
Parabéns!!
Feliz aniversário!!
Esperamos de conseguir o mesmo sucesso!
Até breve!

quinta-feira, 20 de março de 2008

Feliz feriado de Páscoa!

Feliz feriado de Páscoa pra todo o mundo!
Lembro a todos que nosso próximo encontro vai cair o dia 5 de abril. Qualquer proposta de ler um autor/texto ou discutir um assunto é bem-vinda, ta?!
E adianto já já que o dia 10 de maio a gente vai partecipar com o grupo de espanhol às celebrações da década da Berio. Quem quiser participar, é bem-vindo também, é apenas ler algo em português para as pessoas presentes, beleza?
Abraços

sábado, 8 de março de 2008

Iluminante artigo!!!

Caros Amigos N° 322 – 7 de Março de 2008
A mídia como arma de guerra
por Izaías Almada
Se alguma dúvida existia, para muitos de nós, do papel da mídia no jogo internacional do poder, na estratégia adotada pelo capitalismo neoliberal em manter suas conquistas a qualquer preço e subjugar aqueles que não lêem na sua cartilha, essa dúvida deixa de existir quando se analisa friamente os últimos acontecimentos desta semana na fronteira entre o Equador e a Colômbia.
Um país conturbado há sessenta anos por uma luta político-militar interna, onde mais de 20 mil insurgentes em armas, FARC e ELN, disputam o poder com os sucessivos governos eleitos pela oligarquia. A Colômbia viu, em poucas horas, cair por terra a máscara de país democrático e legalista. E como sua política é determinada fora de suas fronteiras ou, provavelmente, em algumas embaixadas de Bogotá, deixou a nu a estratégia adotada por todos aqueles que não querem a paz interna no país. Ou, pior ainda, que precisam conflagrar a região, ampliar o conflito, com propósitos diversionistas, desviando a atenção para encobrir aquilo que interessa ao Departamento de Estado norte-americano.
Senão vejamos trecho de um relatório feito ao presidente Bush em 30 de julho de 2001 pelo National Energy Police Report e publicado pelo jornal The Nation: “os EUA necessitam garantir para os próximos anos o fornecimento seguro, estável e barato do petróleo”. O relatório avalia que três regiões no mundo têm que ser consideradas nessa perspectiva: o Golfo Pérsico, a Ásia Central e o Arco Amazônico andino, leia-se Venezuela, Colômbia e Equador.
Há, contudo, um significativo parágrafo na recomendação a Bush: “Caso não se consiga o petróleo por meios diplomáticos, devemos introduzir na matéria o nosso aparato militar”.
Golfo Pérsico, Irã e Iraque; Ásia Central, Afeganistão. Aqui, como se sabe, falharam os “meios diplomáticos”. O Arco Amazônico andino, contudo, está localizado no “quintal”, o que não deveria causar maiores embaraços, mas surgiram aqui dois empecilhos: o primeiro, Hugo Chávez, e mais recentemente Rafael Correa. O tradicional golpe de estado foi tentado contra Chávez em 2002, mas também não deu certo.
Idéias de soberania, independência, mercados comuns e construção de alternativas energéticas vão ganhando força entre países como Argentina, Brasil, Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua, Cuba. Cria-se a Telesur, a ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas) em oposição à falecida ALCA, o Banco do Sul, a Petrocaribe, onde países pobres caribenhos podem comprar petróleo da Venezuela a preço mais barato. Um pouco de solidariedade invade os números frios do comércio feito de trocas que só beneficia um dos lados, o mais rico.
Preocupado com os conflitos militares no Iraque e no Afeganistão, com as ameaças ao Irã, com a manutenção de Israel como Estado polícia no Oriente Médio, os Estados Unidos da América perceberam que, a rigor, contam apenas com um governo totalmente submisso na América do Sul: a Colômbia. E talvez já não contem, aqui no seu antigo quintal, só com os “meios diplomáticos” para conseguir o seu petróleo seguro e barato.
Como explicar para o mundo que a invasão do território do Equador pelas Forças Armadas da Colômbia, a que se pretendeu dar um caráter de surpresa, era uma ação preventiva de defesa do território colombiano? E apresentar rapidamente como prova alguns documentos “recuperados” do laptop de um líder guerrilheiro, onde se inferia que 300 milhões de dólares foram dados por Hugo Chávez às FARC, que os guerrilheiros iriam comprar 50 quilos de urânio, que Rafael Correa e Chávez tinham acordos secretos com as FARC, um vídeo onde um soldado, em plano muito fechado, conta dólares supostamente encontrados no acampamento guerrilheiro. Afinal, tudo isso justificaria a ação em território equatoriano. E era preciso que o mundo repercutisse toda a montagem da farsa rapidamente. Rádio, televisão, jornais, internet deveriam espalhar o mais rapidamente possível para as principais capitais européias e para os países da América Latina, em particular, que a Colômbia agiu contra terroristas que até urânio já queriam comprar... (Alguém aí se lembra das armas de destruição em massa de Sadam Hussein?). A mídia foi acionada como arma de guerra, como tem sido usual nos últimos tempos. E com tal violência e precisão que confunde a cabeça de muitos de nós... e chegamos a duvidar das nossas próprias convicções.
Mas em dúvida, sempre podemos nos perguntar:
De onde partiram os aviões e helicópteros que participaram da invasão do território equatoriano e que, pela posição dos disparos, vieram do próprio território do Equador? Seriam da base norte-americana de Manta, cujo contrato não será renovado por Rafael Correa no final de 2008?
Quem dispõe de sofisticada tecnologia de satélites para identificar eventuais telefonemas dados pelo líder guerrilheiro Raul Reyes?
O que foi fazer em Bogotá, dois dias antes do bombardeio ao acampamento guerrilheiro, o contra-almirante Joseph Nimmich, comandante da Força Tarefa do Sul dos EUA?
Onde estaria localizado o laboratório das FARC para enriquecimento de urânio nas selvas colombianas?
Os 300 milhões de dólares que Chávez entregou às FARC teriam sido em cheque ou escondidos em caixas de uísque?
Por quê a imprensa não deu o devido destaque à declaração de um dos últimos reféns soltos pelas FARC, em fevereiro, de que Ingrid Bettencourt, uma vez libertada, se candidataria à presidência da Colômbia?
Teriam Uribe e o Departamento de Estado norte-americano interesse na libertação de Ingrid Bettencourt?
É preciso ter paciência diante de tanta mentira e farsa. Recomenda-se a leitura do livro O Senhor das Sombras, de Joseph Contreras, sobre Álvaro Uribe.
Izaias Almada é autor, entre outros, do livro "Venezuela Povo e Forças Armadas", Editora Caros Amigos.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Iniciativa de solidariedade

Oi gente, divulgamos com muito prazer esta iniciativa!
Sábado 8 de março na Sala Santa Caterina em Via San Lorenzo 21 em Genova, às 4:00 p.m., vai ter um simpático bingo com aperitivos e música (DJ Jimmy Ordoñez), e também diversão para os meninos, cujos proveitos serão remitidos a beneficio da Fundación de Ayuda Social Madonna della Guardia, que atua para os meninos pobres do Ecuador.
Participem numerosos!!
Até lá!!

Outro artigo enviado pela Dirlene

Oi pessoal!
Vou publicar outro artigo enviado-me pela Dirlene, desta vez que não escreveu ela, e sim o jornalista e escritor português Miguel Urbano Rodrigues, sobre o assassinato de Raul Reyes por parte do governo colombiano em território equatoriano.
De fato, acho muito importante divulgar noticias que geralmente não ouvimos nos jornais italianos.
Nosso grupo de leitura também serve para comparar os diferentes pontos de vista, aliás, principalmente para isso.
Raul Reyes, o herói assassinado pelo fascismo Colombiano
O fascismo colombiano assassinou em território equatoriano o comandante Raul Reyes, das FARC, numa operação de terrorismo de Estado que contou com a cumplicidade dos EUA. Miguel Urbano Rodrigues escreve sobre o atentado e o herói revolucionário que conhecia pessoalmente.
Miguel Urbano Rodrigues - 02.03.08
O governo de Álvaro Uribe assassinou na madrugada de sábado, em território do Equador, o comandante Raul Reyes das FARC numa operação concebida e executada com o apoio dos EUA. A notícia foi inicialmente divulgada pelo ministro da Defesa de Uribe num comunicado triunfalista que deturpa grosseiramente os acontecimentos, ocultando o carácter criminoso da acção terrorista. Segundo Juan Manuel Santos, Raul Reyes teria sido abatido num acampamento situado no Equador a 1800 metros da fronteira durante um bombardeamento realizado pela Força Aérea do seu pais a partir de território colombiano, para «não violar a soberania» dos países vizinho. Mas logo esclarece que, posteriormente, tropas do exército atravessaram a fronteira para recolher o corpo de Raul Reyes e trazê-lo para Bogotá, afim de evitar que os guerrilheiros das FARC o sepultassem. A nota do ministro apresenta assim, pelo absurdo, um toque surrealista. É inimaginável que qualquer avião possa despejar bombas sobre um acampamento, encontrando-se a quase dois quilómetros de distância. E grotesco que essa mentira seja seguida da confissão de que, afinal, forças do exército colombiano violaram pouco depois a soberania equatoriana. As coisas aconteceram de outra maneira.
O DEDO DOS ESTADOS UNIDOS
Através de satélites norte-americanos, Uribe teve conhecimento da presença de um grupo de guerrilheiros das FARC do lado equatoriano do Departamento colombiano amazónico do Putumayo. Bogotá soube através de delação que Raul Reyes se encontrava no local. O dirigente revolucionário tinha a cabeça a premio, vivo ou morto, por 2,7 milhões de dólares. A denúncia foi paga e aviões Super Tucan da Força Aérea – a mais poderosa e bem equipada da América Latina – despejaram uma chuva de bombas sobre o acampamento. No criminoso ataque de pirataria aérea morreram, além de Reyes, o cantor revolucionário Julian Conrado (o grande artista da Rádio clandestina Voz de la Resistência) e 16 guerrilheiros. Foram massacrados enquanto dormiam, em condições ainda mal conhecidas. Uribe, ao receber a noticia, felicitou a Força Aérea e o corpo de Reyes, mutilado pela metralha, foi levado para Bogotá. Logo fotografias do cadáver ensanguentado do herói apareceram em televisões e jornais de dezenas de países. Quase o mesmo ritual macabro que envolveu o assassínio do Che em 1967.
OS BASTIDORES DO CRIME
O atentado terrorista ocorre num momento em que a campanha para a libertação da franco-colombiana Ingrid Bettancourt inspira as manchetes da chamada grande imprensa internacional. Nunca se mentiu tanto sobre a realidade colombiana como nestes dias em que, a pretexto do sofrimento da ex – candidata à Presidência, as FARC são alvo de uma montanha de calúnias. Um dia ficará evidente que no debate em torno do intercâmbio humanitária, as FARC actuaram sempre com transparência e autenticidade revolucionária, movidas por um objectivo humanista e Uribe com hipocrisia e intenções inconfessáveis. Correspondendo a insistentes apelos de Hugo Chavéz e da senadora Piedad Córdoba, as FARC decidiram numa primeira fase libertar unilateralmente Clara Rojas e a ex-deputada Consuelo Perdomo. A operação foi aliás adiada por alguns dias porque Uribe intensificou a concentração de tropas na área onde presumivelmente ambas deveriam ser entregues à Cruz Vermelha Internacional e transportadas para Caracas em helicópteros venezuelanos. As FARC estavam conscientes dos enormes riscos que a operação envolvia. Só quem conhece a geografia da Colômbia- um pais com 1.140000 quilometros quadrados e 45 milhões de habitantes, sulcado por três cordilheiras, rios gigantescos e em grande parte coberto pela densa floresta amazónica - pode avaliar o que significou conduzir as duas mulheres do desconhecido acampamento em que se encontravam até ao Departamento do Guaviare, perto da fronteira venezuelana. É útil , alias, recordar que o exercito colombiano violou o compromisso de cessar fogo e começou a bombardear o local uma hora após os helicópteros terem levantado voo. Os satélites americanos transmitiram obviamente à Bogotá minuciosas informações sobre o percurso seguido pelo comando guerrilheiro incumbido de entregar Clara e Consuelo à Cruz Vermelha.
A PROPOSTA DA ZONA DESMILITARIZADA
Insistiram posteriormente as FARC pela desmilitarização dos municípios de Pradera e Florida como condição indispensável ao intercambio humanitário, exigido pelo povo colombiano – operação que previa a troca de 40 reféns em poder das FARC – entre os quais Ingrid Bettancourt – por 500 guerrilheiros encarcerados em presídios do governo. Uribe negou-se a atender todas propostas internacionais recebidas com o objectivo de se chegar a um acordo que permitisse a troca. Não obstante essa atitude intransigente do presidente neofascista da Colômbia, as FARC correspondendo a um novo apelo de Hugo Chavez tomaram a decisão de libertar, também em gesto unilateral, quatro deputados em seu poder. Mais uma vez a operação foi adiada porque o Exercito, nas vésperas da data prevista, mobilizou poderosas forças, concentrando-as nos Departamentos do Caquetá, do Meta e do Guaviare, onde as FARC estão bem implantadas, e por onde, presumivelmente, os parlamentares poderiam passar.
ERA DUPLO O OBJECTIVO DESSA INICIATIVA
Se houvesse um choque directo, Uribe responsabilizaria as FARC pela morte dos deputados. Simultaneamente, os aviões espias, equipados com uma tecnologia que Washington somente proporciona a Israel, estiveram activíssimos. Os satélites americanos transmitiram informações valiosas a Bogotá. Mas as FARC cumpriram, mais uma vez, o que não impediu uma intensificação da campanha pró-libertaçao imediata de Ingrid Bettancourt. Essa exigência era, nas condições existentes, de impossível concretização. Uma mulher fragilizada, doente, não podia em hipótese alguma caminhar durante dias através de regiões selváticas, onde as tropas colombianas poderiam interceptar o comando por ela responsável. Renovaram portanto as FARC a sua proposta para desmilitarização de Pradera e Florida, sem a qual o intercâmbio humanitário é inviável.
O HEROI CAIDO EM COMBATE
O comandante Raul Reyes era, depois de Manuel Marulanda, o membro mais destacado do Secretariado e do Estado-maior Central das FARC. Revolucionáio desde a juventude – tinha actualmente 60 anos – travou as primeiras lutas políticas como sindicalista. Elas foram uma iniciação para outras batalhas. Há mais de trinta anos, Luís Edgar Devia embrenhou-se nas montanhas, aderiu às FARC, tornou-se Raul Reyes. Conheci-o em Maio de 2001. Recebi um convite para passar algumas semanas no seu acampamento, próximo de San Vicente del Caguan, capital da então Zona Desmilitarizada. Aceitei com prazer.
PERSONALIDAE EXCEPCIONAL
Raul Reyes não impressionava pela aparência física. Baixo, levemente grisalho, tinha um timbre de voz suave. Mas logo na primeira noite, após o jantar, quando conversamos no seu posto de comando – um austero escritório, com uma mesa e duas cadeiras, instalado sob uma tenda oculta pelas altas copas da mata amazónica – percebi que aquele guerrilheiro frágil era uma personalidade excepcional. Falamos do mundo em crise antes de me oferecer livros e documentação como prólogo indispensável à abordagem da luta das FARC. Era o responsável pelas conversações de paz que transcorriam nessas semanas no vilarejo de Los Pozos com os representantes do governo do presidente Pastrana. Corriam então os tempos em que Pastrana saudava Manuel Marulanda com abraços de Judas, dias em que vi embaixadores de países da União Europeia a disputar as palavras e o sorriso do legendário Tirofijo, comandante supremo das FARC.
LONGAS MADRUGADAS DE CONVERSA
Viajei com Reyes para La Macarena, onde as FARC libertaram unilateralmente 304 soldados e policias, prisioneiros de guerra e tive o privilegio de manter com ele, nas madrugadas mornas da floresta, longos diálogos sobre a sua organização revolucionaria, a América Latina e a estratégia do imperialismo estadounidense, o grande inimigo da humanidade. E também sobre a vida. Escrevi no próprio acampamento artigos para o "Avante!" sobre os combatentes das FARC e uma entrevista também publicada pelo órgão do PCP. A atmosfera tinha algo de irreal, porque os próprios textos eram transmitidos pela secretária de Raul para um destinatário que Depois os encaminhava ao jornal. A Internet, paradoxalmente, podia funcionar como instrumento ao serviço de uma guerrilha revolucionária. Para honra e proveito meu, Raul Reyes manteve o contacto comigo. Com frequência recebia mensagens suas, por intermédio de comandantes amigos, por vezes agradecendo artigos que publicara sobre a luta das FARC. Recordo que pouco antes do sequestro no Equador do comandante Simon Trinidad – depois entregue por Uribe aos EUA – sugeriu que voltasse à selva colombiana. O projecto foi então a pique porque a fronteira equatoriana se havia tornado muito insegura.
A VOZ DAS FARC
Até ao seu último dia, Reyes foi a voz das FARC no diálogo destas com o mundo. Mas o comandante guerrilheiro, incumbido de incontáveis tarefas, encontrava ainda tempo para escrever artigos, alguns sobre complexas questões ideológicas, para a revista Resistência órgão internacional das FARC e para dar entrevistas a jornais da Europa, da América Latina, dos EUA. Nelas o saber e a firmeza do comunista de têmpera tinham como complemento harmonioso a cultura do intelectual humanista. Uribe festeja agora a morte do combatente que, nas palavras de homenagem de Jaime Caicedo, o secretário-geral do Partido Comunista Colombiano, foi um revolucionário exemplar que «entregou a vida pela causa em que acreditava». O triunfalismo do presidente neofascista da Colômbia que financiou o paramilitarismo quando governador de Antioquia e tem o seu nome na lista dos narcotraficantes elaborada pela Drug Enforcement Agency dos EUA, mas é hoje o melhor aliado de Bush no Continente não tem o poder de fazer historia. A passagem pela presidência dos seus países de Uribe e de Bush deixará apenas memória de actos sombrios e de crimes contra a humanidade. A marcha Contra o Paramilitarismo e pela Paz na Colombia, a realizar-se no dia 6 de Março na Colômbia e em diferentes capitais da Europa e da América Latina, assume tambem agora o significado de uma homenagem póstuma a Raul Reyes. A solidariedade com aqueles que se batem e morrem por uma Colombia democrática e progressista é, mais do que nunca necessária. Raul Reyes entra ao desaparecer, assassinado, no panteão dos heróis da América Latina. Como Sucre, como Bolívar, como Artigas, o Che, Raul Reyes ultrapassa a fronteira da única forma de eternidade possível – dos homens que viveram para servir a humanidade e contribuir para que ela continue.
Serpa, 2 de Março de 2008

Encontro de sábado passado

Oi gente!
No sábado passado tivemos um encontro mais breve que o normal, por causa da concomitância com o documentário que apontamos, contudo foi bem interessante, porque, antes de mais nada, foi um prazer receber tres novos participantes, o casal de apaixonados de viagens Adelaide e Luciano e o Giancarlo, que tem um interessante e agradável site lusófono cujo endereço divulgamos com muito prazer: http://www.ponto.altervista.org/, o portal das comunidades lusófonas na Itália.
Além disso, propus de ler um artigo que me enviou minha amiga Dirlene de Belo Horizonte, da própria Dirlene, aliás Maria Dirlene Trindade Marques, coordenadora do Comitê Mineiro do Fórum Social Mundial e professora de Economia da UFMG.
O texto do artigo, sobre Cuba, é o seguinte:
Uma visão sobre Cuba
Participei de um grupo de mineiros que esteve em Cuba do dia 20 de janeiro a 5 de fevereiro de 2008, nas Brigadas de Solidariedade. A carta renúncia de Fidel e os comentários da imprensa e das diversas pessoas que encontro, me levaram a escrever este texto, considerando o que vivi, vi, ouvi, observei e estudei (li muitos artigos, mas quero chamar a atenção para os artigos do Laerte Braga, Emir Sader, um sobre os Reporteros sin Fronteras, Jesús Rodríguez Díaz [1]e a entrevista com Ignácio Ramonet).
Como todas (os) brasileiras (os), influenciadas (o) pela intensa propaganda, fomos a Cuba procurando a miséria e a ditadura. E, no nosso subconsciente, o povo deveria ser muito passivo e muito bronco, para manter uma ditadura de 49 anos.
E o que encontramos? Tivemos um choque pois encontramos um povo com um nível cultural bem acima da media do povo brasileiro. Tivemos liberdade de ir e vir, de bisbilhotar, entrar em todos os lugares e de conversar com todos. Aliás, até de forma muito invasiva, entrávamos nas casas, nas escolas infantis, nos museus. Procurávamos crianças e adultos de pés no chão, mendigando, dormindo debaixo de marquises, casas miseráveis. Só então entendemos a verdade do out door próximo ao aeroporto: "Esta noite, 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma é cubana". Outro: "A cada ano, 80 mil crianças morrem vitimas de doenças evitáveis. Nenhuma delas é cubana". E nós sabemos que milhares delas são da 8a economia do mundo, a brasileira.
Chegamos um dia após o encerramento do processo eleitoral, com a eleição do Parlamento, eleição não obrigatória que teve 95% de participação. E, para nossa surpresa, ficamos sabendo que o Partido Comunista Cubano não é uma organização eleitoral e portanto não se apresenta nas eleições e nem postula candidatos. Os candidatos são tirados diretamente, em assembléias publicas nas diversas formas de organizações existentes: do bairro, das mulheres, jovens, estudantes, campesinas. Que depois vão se reunindo por região, estado e finalmente no nível nacional. Estes representantes nacionais elegem o presidente e o vice. Todos os representantes podem ser destituíveis, a qualquer momento, pelas suas bases, caso não estejam respondendo ao projeto de sua eleição. E vimos como 46% dos eleitos são mulheres (e no Brasil até agora, conseguimos as cotas de 30% para disputar). As estruturas de funcionamento são mais próximas de uma democracia direta. Parece-me um contra-senso chamar este processo de ditadura. Seguramente, é diferente da democracia burguesa, onde após colocar o voto na urna finda a obrigação do eleitor. Os críticos valem-se da mágica de que "o que é bom para os EUA é bom para o resto do mundo". Desconhecem, e não querem que seja conhecido, outro processo de participação popular, como o Cubano.
Tentando também entender o que víamos, um povo simples e culto, simpático e sem stress, procuramos estatísticas: alfabetização de 99,8% (no Brasil 86,30%) e que de 1959 a 2007, a quantidade de escolas passou de 7.679 a 12.717, os professores passaram de 22.800 para 258.000, com uma população em torno de 11 milhões de habitantes sendo o país que o maior índice de professores por habitante do mundo. No IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) 2007 da ONU, o Brasil comemorou o fato de figurar em 70º lugar. Cuba figura em 51º lugar. O país conta com 70.594 médicos para uma população de 11,2 milhões (1 médico para 160 habitantes); índice de mortalidade infantil de 5,3 para cada 1.000 nascidos vivos (nos EUA são 7 e, no Brasil, 27); 800 mil diplomados desde 1959 em 67 universidades gratuitas. Dados da Unesco em 2002 relatavam que 98% das residências cubanas possuíam instalações sanitárias adequadas (contra 75% das brasileiras). Dados da CIA, central de inteligência americana, estimavam em 1,9% o desemprego em Cuba. No Brasil, segundo a mesma fonte, o índice era de 9,6% no ano de 2007. E que, a expectativa de vida ao nascer na ilha era de 77,41 anos e no Brasil era de 71,9 anos.
Esses números a despeito de ser uma pequena ilha, ao alcance de um tiro de canhão disparado de Miami e que resistiu a uma tentativa de invasão norte-americana (Baía dos Porcos, 1961) e a várias outras de assassinato de Fidel Castro e ações terroristas orquestradas pela CIA, ter um bloqueio econômico e político apenas rompido por países com autonomia como Venezuela, Bolívia, China e alguns paises da Europa.
E nós, com a arrogância de quem tem todas as informações a partir da imprensa livre brasileira (sic), continuávamos procurando outros sinais de desmandos: e os presos políticos?
De fato, há pessoas detidas, mas não pelo que pensam, mas pelo que fazem, como o de organizar grupos financiados pela embaixada dos EUA. Fora isso, todas as personalidades importantes da dissidência estão em liberdade e têm suas atividades políticas como Martha Beatriz Roque, Vladimiro Roca e Oswaldo Payá [2]. É importante ressaltar que Cuba sofreu intensamente com o terrorismo nos últimos 40 anos, perfazendo mais de 3500 mortos. E fica fácil mostrar a postura dos EUA com documentos oficiais confirmando o financiamento de cubanos exilados para promover ações contra o governo cubano. O museu na Praia Giron (ou Baía dos Porcos) é um monumento de denuncia às ações terroristas, iniciadas desde 1961 quando se rompem as relações e se instaura o bloqueio. Em 1963, o democrata Kennedy aprova o plano de manter todas as pressões possíveis com o fim de perpetrar um golpe de Estado. E sabemos quantas vezes, ao longo destes anos, tentaram matar Fidel Castro, obrigando-o a viver como nômade. Nos anos 90, a Lei Torricelli reforça o bloqueio econômico e, na seção 1705, diz que "Os Estados Unidos proporcionarão assistência governamental adequada para apoiar a indivíduos e organizações não governamentais que promovam uma mudança democrática não violenta em Cuba". Esta lei vai ser reforçada na administração de Clinton, pela Lei Helms-Burton quando diz : "O presidente dos EUA está autorizado a proporcionar assistência e oferecer todo tipo de apoio a indivíduos e organizações não governamentais independentes com vistas a construir uma democracia em Cuba". E o governo Bush não podia ficar atrás e em 2004 aprovou um financiamento de 36 milhões de dólares para financiar a oposição a Cuba, em 2005 mais 14,4 milhões de dólares, em 2006 mais 31 milhões de dólares além do financiamento de 24 milhões de dólares para a Radio e TV Martí [3], transmitida dos EUA para Cuba neste caso, infringindo a legislação internacional que proíbe este tipo de transmissão. Estes valores são fantásticos -105,4 milhoes em apenas 3 anos!!!
Outra dificuldade é entender o funcionamento da economia cubana. Logo após a revolução faz-se uma ampla reforma agrária, instalando uma via muito particular no campo, onde de um lado manteve alguns proprietários privados, como o de tabaco, e de outro, constituindo cooperativas voluntárias ao lado das propriedades estatais. O setor serviços foi todo ele estatizado. Após os anos 90, com as dificuldades dadas pela intensificação do bloqueio e com o fim da União Soviética, foi feita uma grande abertura para entrada do capital internacional no setor turismo, sem desconhecer o risco que isto poderia acarretar. O setor de transformação, inicialmente todo ele estatizado, hoje tem tido parcerias.
Com o nosso olhar de classe média, que podemos fazer uma viagem internacional, nos chocavam alguns problemas com a vida cotidiana como habitações pobres, transporte publico precário, limitações econômicas para se ter até papel higiênico (isto deixava a todos pensando: pobrezinhos dos cubanos!). Isso é verdadeiro, além destes problemas da vida cotidiana, vários outros nos foram apresentados pelo secretario do partido comunista, que fez uma palestra para os brigadistas: o aumento da prostituição, dos pequenos delitos, da corrupção e da desigualdade social. Quando se investiu no turismo e posteriormente com a criação da moeda turística (o peso conversível), cresce de um lado a entrada de divisas e de outro se possibilitou um rendimento para os trabalhadores destes setores, acima do restante da população, ocasionando um aumento da desigualdade social. Afirma ele que vivem numa quádrupla ilha: geográfica; única nação socialista do Ocidente; órfã de sua parceria com a União Soviética e bloqueada há mais de 40 anos pelo governo dos EUA. E buscando respostas coletivas para estes problemas, desencadearam um processo interno de críticas e sugestões à Revolução, através das organizações de massa e dos setores profissionais. São mais de 1 milhão de sugestões que pretendem trabalhar mas mantendo os princípios do socialismo: solidariedade e não a competitividade, o coletivo e não o individualismo.
Mas, para nós brasileiros de classe media (somos quantos? Depende da estatística, mas varia de 5 a 10%) e que não conhecemos a realidade dos 90% do povo brasileiro que não tem como pagar um plano de saúde, educação precária, com pouca alimentação, que fica com os restos do desperdício dos 10%, é difícil entender a lógica econômica de uma sociedade voltada para os 100% da população. E ficamos horrorizados por eles não terem papel higiênico. Mas não nos deixam horrorizados que tenham bibliotecas e livrarias em toda escola e em toda cidadezinha ou que tenham acesso à saúde e educação da melhor qualidade, habitação com saneamento e aparelhos eletrodomésticos novos para economizar energia! Ou que não tenhamos encontrado erosão por todos os lugares que andamos!
E a busca do conhecimento? E as escolas? Como é possível ver os círculos infantis, crianças de 1 a 4 anos, assentadas ouvindo historias, sem a professora estar gritando, mandando ficarem quietas? E ver os portões destas escolas abertas e as crianças não fugirem? Como é possível não ter o stress que temos em nossas escolas? E, conversando com as crianças do pré-escolar e do escolar (5 a 11 anos), ficávamos surpresas com as perguntas cheias de inteligência e informação sobre nosso país, que faziam aquelas pequenas crianças. Como nos permitiam entrar nas salas de aulas, fotografar, bisbilhotar as bibliotecas onde encontrávamos livros de Marx a Lênin, de Jorge Amado, Machado de Assis, a Shakespeare? Imagine isto aqui no Brasil? Ficávamos encantadas. Eu, como professora da UFMG, tida como uma das melhores do Brasil, me encantava com aquelas bibliotecas. E as livrarias? Na pequenina Caimito onde ficava o acampamento, literalmente invadimos uma livraria, comprando tudo quanto e tipo de livro, pela sua qualidade e pelo preço (comprei um livro do Boaventura de Souza Santos [4] por 8 pesos cubanos – que equivale mais ou menos a R$ 0,50 -, outro do Che Guevara sobre Economia Política de 397 págs. por 22 pesos cubanos, portanto em torno de R$ 1,40 (e daí para frente).
E o investimento na potencialidade do ser humano não pára aí. O desenvolvimento das artes – dança, pintura, musica, poesia, desportos – é encontrado em cada escola, em cada esquina, em cada cidade.
É claro que também tivemos as frustrações no contato com algumas pessoas, especialmente em Havana onde impera o espírito da cidade turística, onde se busca sempre ganhar alguma coisa, passar a perna, apenas diferenciando-se pela intensidade dos problemas, com as nossas cidades turísticas como Rio de Janeiro. Só que é mais ingênuo, meio estilo anos 60. De todo jeito, frustrante. Também nos entristeceu encontrar tantos cubanos sonhando em sair da ilha, acreditando por exemplo, que o Brasil é um paraíso, visão que tem através das telenovelas (que todos lá assistem).
É mesmo assim uma sociedade muito diferente que nos estimula e atrae.
Aliás, nada melhor para expressar isto do que a crônica do Clovis Rossi (O "pop star" se aposenta) do dia 20 de fevereiro na Folha de São Paulo contando o episodio de um encontro do GATT, que contava com a presença dos chefes de estados, diferentes autoridades mundiais e jornalistas de todo o mundo. Onde o burburinho na sala do encontro e na sala dos jornalistas era enorme, com a atenção dispersa. Quando se anunciou Fidel Castro houve um grande burburinho, com todos procurando o melhor lugar para assisti-lo e "ao terminar, uma chuva de aplausos, inclusive de seus pares, 101% dos quais não tinham nem nunca tiveram nenhum parentesco e/ou simpatia com o comunismo. Difícil entender o que aconteceu alí."
Para terminar, quero colocar uma idéia desenvolvida na mesa redonda integrada por vários cientistas cubanos e sintetizada pelo jornalista Jesús Rodríguez Díaz, falando sobre o potencial no desenvolvimento do conhecimento quando ele se dá de forma coletiva. É que no capitalismo existe uma grande contradição entre o caráter social da produção e o caráter privado da apropriação. Daí, a reação do capitalismo ao papel crescente do conhecimento na economia e a busca da privatização do conhecimento, principalmente através da propriedade intelectual, das barreiras regulatorias e do roubo dos cérebros.
"Temos que insistir também que, quando falamos do Potencial Humano criado pela revolução, não nos referimos exclusivamente à quantidade de conhecimentos técnicos incorporados em nossa população. Mais importante ainda é a semeadura de valores éticos, de atitudes ante a vida. Na sociedade do conhecimento faz falta um cidadão com vocação de aprender e de criar, e de levar seus conhecimentos aos demais seres humanos. Os conhecimentos técnicos nos podem dizer como se trabalha, porém são os valores os que nos fazem compreender porque se trabalha e deles tiramos as motivações e as energias para seguir adiante.
Que se passa agora se os conhecimentos se voltem ao fator mais importante da produção, inclusive os bens de capital? Não é difícil de prever. A resposta do capitalismo é a intenção de converter também o conhecimento em Propriedade Privada. Porém, a boa noticia é que isto não vai funcionar. O conhecimento não e igual ao Capital. Está nas pessoas e não se pode facilmente privatizar. O conhecimento requer circulação e intercambio amplo. As leis da propriedade intelectual inibem este intercambio. O conhecimento é validado pela sua aplicação social, não pela sua venda. O uso amplo dos produtos do conhecimento é o que os potencializa", termina o jornalista. Esta é a grande limitação do raciocínio capitalista em entender a potencialidade da criação coletiva. Ignoram que a criação humana coletiva tem muito mais possibilidades do que as leituras positivistas do conhecimento.
O maior feito desta pequenina ilha, com um povo cheio de dignidade e coragem, terá sido o de mostrar ao mundo que é possível construir uma sociedade baseada no ser humano e não na mercadoria e na acumulação de capital. E isto ameaça o mundo capitalista, e é rejeitada pela imprensa burguesa e pelos setores médios que querem impor as condições de suas vidas para a totalidade do mundo. Mas, Cuba não está só. Existe hoje uma rede internacional de solidariedade ocasionada pelos médicos e professores cubanos em mais de 100 países, pela Operação Milagros, pelas Brigadas de Solidariedade e por todos aqueles que acreditam que Um Outro Mundo é Possível e que lutam pela sua construção. Um Outro Mundo é Possível. Um Outro Brasil é Necessário!
[1] Presidente de la Unión de Periodistas de Cuba.
[2] Cfr. http://www.oswaldopaya.org/es/
[3] Cfr. http://www.martinoticias.com/
[4] (Coimbra, 15 de Novembro de 1940) doutor em sociologia do direito pela Universidade de Yale e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, ganhou especial popularidade no Brasil, principalmente depois de ter participado nas três edições do Fórum Social Mundial em Porto Alegre.