terça-feira, 22 de julho de 2008

Encontro de sábado passado

Oi galera!!
No sábado passado a gente se encontrou - 15 pessoas, contra toda previsão!! - pra ler o material sobre José Maria Rabêlo, o que já tinha colocado aqui mais uma poesia dele, a primeira do livro Residência Provisória. Os sentimentos do exílio, cujo título é o mesmo do livro: Residência Provisória.
Surgiu também uma conversa bem legal sobre a história da ditadura no Brasil...
Eis a linda e comovente poesia que a gente leu:
Residência Provisória
São sempre incertos os rumos
ao longo da caminhada
e sem fim parece a espera
eela volta tão sonhada.

Nos exilios não se mora,
o que se faz è acampar.
Aguardar aqui è o verbo
que se deve conjugar.

A sentença que cumprimos
nunca foi determinada.
Ninguém sabe a duração
dessa pena decretada.

Dela se terá idéia,
mas depois de ser cumprida.
Duração que pode ir
de um só dia a toda a vida.

Que paisagem é esta que me confunde,
que rio é este que nunca vi,
que gente é esta que desconheço,
que campo é este em que me perco,
que noite é esta de que não saio,
que lugar é este a que devo ir,
que bruma é esta que dura sempre,
que canto é este que não distingo,
que festa é esta sem propósito,
que sol é este que não me aquece?

Lá fora a neve encobre
as margens das estradas,
e um álgido vento
açoita os vidros do edifício.
A rua está deserta,
e os homens que passam,
poucos, pela madrugada,
conversam noutra língua,
falam de longínquas mulheres,
de sonhos ininteligíveis
para meus sentidos de sonâmbulo.
O agasalho que me deram
é curto, incômodo,
e me imobiliza os gestos, o pensamento,
na solidão do meu quarto.
Tento chamar pelo telefone
a alguma parte em que me entendam:
todas as linhas estão cortadas,
todos os números estão mudos.
Olho para o mar como último ponto de salvação,
mas os navios já partiram,
e apenas os bêbados, os retardatários
ainda aguardam sobre o cais
o embarque impossível.

A viagem compulsória,
sem programa nem roteiro.
Quem dirá a trajetória
para o andar do viageiro?

Travessia compulsória
neste mapa forasteiro,
como prova expiatória
pra testar o caminheiro.

Existência compulsória,
num refúgio carcereiro,
todo dia transitória,
interina o tempo inteiro.

Pois é vida migratória,
pouso errante, passageiro,
gleba que se carpe, inglória,
não dono; como meeiro.

Não dono; como meeiro:
residência provisória.
Até setembro!!

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